segunda-feira, 22 de julho de 2013

Neve num sistema planetário bebê

Um marco gelado para a formação de planetas e cometas



Uma equipe internacional de astrônomos conseguiu obter pela primeira vez a imagem de uma linha de neve num sistema planetário recém nascido. A linha de neve, situada no disco que rodeia a estrela do tipo solar TW Hydrae, promete ensinar-nos mais sobre a formação de planetas e cometas, incluindo os fatores que determinam a sua composição e consequentemente sobre a história do nosso próprio Sistema Solar. Os resultados foram publicados hoje na revista Science Express.

Utilizando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), uma equipe de astrônomos obteve a primeira imagem da linha de neve num sistema planetário recém nascido. Na Terra, as linhas de neve formam-se a altitudes elevadas, onde as temperaturas baixas transformam a umidade do ar em neve. Esta linha é claramente visível numa montanha, no local onde o pico coberto de neve termina e a face rochosa descoberta começa.

As linhas de neve em torno das estrelas jovens formam-se de maneira semelhante, nas regiões distantes e frias dos discos de poeira, a partir dos quais se formam os sistemas planetários. Partindo da estrela em direção ao exterior, a água (H2O), é a primeira a congelar, formando a primeira linha de neve. Mais longe da estrela, à medida que as temperaturas descem, as moléculas mais exóticas podem congelar e transformar-se em neve, tais como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o monóxido de carbono (CO). Estes diferentes tipos de neve dão aos grãos de poeira uma camada exterior pegajosa e desempenham um papel importante, ajudando os grãos a ultrapassarem a sua tendência natural para se quebrarem por meio de colisões, e permitindo-lhes tornarem-se os blocos constituintes cruciais de planetas e cometas. A neve também aumenta a quantidade de matéria sólida disponível, podendo fazer acelerar drasticamente o processo de formação planetária.

Cada uma destas diferentes linhas de neve - água, dióxido de carbono, metano e monóxido de carbono - podem estar ligadas à formação de tipos particulares de planetas [1]. Em torno de uma estrela do tipo solar, num sistema planetário como o nosso, a linha de neve da água corresponderia à distância entre as órbitas de Marte e Júpiter, e a linha de neve do monóxido de carbono corresponderia à órbita de Netuno.

A linha de neve descoberta pelo ALMA é o primeiro indício que temos da linha de neve de monóxido de carbono em torno de TW Hydrae, uma estrela jovem situada a 175 anos-luz de distância da Terra. Os astrônomos acreditam que este sistema planetário em formação partilha muitas das características do nosso Sistema Solar, quando este tinha apenas alguns milhões de anos de idade.

“O ALMA deu-nos a primeira imagem real de uma linha de neve em torno de uma estrela jovem, o que é tremendamente excitante, pelo que podemos aprender sobre o período inicial da história do nosso Sistema Solar”, disse Chunhua “Charlie” Qi (Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Cambridge, EUA), um dos autores principais do artigo científico que descreve este trabalho. “Conseguimos observar detalhes escondidos anteriormente, sobre as regiões geladas de outro sistema planetário semelhante ao nosso”.

A presença da linha de neve do monóxido de carbono pode ter também consequências mais importantes do que apenas a formação de planetas. O gelo de monóxido de carbono é necessário à formação de metanol, que é um dos blocos constituintes das moléculas orgânicas mais complexas essenciais à vida. Se os cometas levarem estas moléculas a planetas recém formados, do tipo da Terra, estes planetas poderiam também ficar equipados com os ingredientes necessários à vida.

Até hoje, nunca se tinham obtido imagens diretas de linhas de neve, já que estas linhas se formam sempre no plano central relativamente estreito do disco protoplanetário e por isso, tanto a sua localização precisa como a sua extensão nunca tinham sido determinadas. Acima e abaixo da região estreita onde as linhas de neve existem, a radiação da estrela impede a formação de gelo. A concentração de gás e poeira no plano central é indispensável para isolar a área da radiação estelar, de modo a que o monóxido de carbono e outros gases possam arrefecer e congelar nesta zona.

A equipe de astrônomos conseguiu espreitar para o interior deste disco, onde a neve se formou, utilizando um truque. Em vez de procurarem a neve - que não pode ser observada diretamente - procuraram uma molécula chamada diazenylium (N2H+), a qual brilha intensamente na região do milímetro do espectro electromagnético e é por isso um alvo perfeito para um telescópio como o ALMA. Esta molécula frágil é facilmente destruída na presença de monóxido de carbono gasoso, por isso só aparecerá em quantidades susceptíveis de serem detectadas em regiões onde o monóxido de carbono se transformou em neve, não podendo por isso destruir a molécula. Ou seja, duma maneira geral, a chave para encontrar a neve de monóxido de carbono consiste em encontrar diazenylium.

A sensibilidade e resolução únicas do ALMA permitiram aos astrônomos detectar a presença e traçar a distribuição de diazenylium, e com isso encontrar uma fronteira claramente definida a cerca de 30 unidades astronômicas da estrela (30 vezes a distância entre a Terra e o Sol), o que dá, efetivamente, uma imagem contrária da neve de monóxido de carbono no disco que rodeia TW Hydrae, que pode ser usada para ver a linha de neve do monóxido de carbono precisamente onde a teoria prevê que deva estar - na zona interior do anel de diazenylium.

Fonte: ESO

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nasa desliga satélite que servia para observar galáxias

Galex orbita a Tera há dez anos e capta radiação ultravioleta.
Missão foi prorrogada três vezes antes do desligamento.

A agência espacial americana Nasa desligou o satélite Galex (sigla para “Galaxy Evolution Explorer”), que há uma década explorava galáxias por meio de um sensor de radiação ultravioleta.

O sinal para encerrar a atividade da sonda foi dado nesta sexta-feira (28) a partir de um centro de operações instalado no estado da Virgínia. O Galex deve ficar em órbita por mais 65 anos, e então entrar na atmosfera terrestre, que deve incinera-lo com o atrito da queda.

A Nasa prorrogou por três vezes a missão do Galex, até enfim decidir encerrá-la. O satélite estava “emprestado” para o Instituto do Tecnologia da Califórnia, que administrava seu uso pelos pesquisadores.

Graças ao Galex, os cientistas puderam fazer os mais variados tipos de observações de estrelas, da Via Láctea a galáxias que estão a bilhões de anos-luz da Terra.

Ilustração mostra o satélite Galex (Foto: Nasa/Divulgação)

Fonte: G1.com

Céu da Semana Ep. #163 - Planetas Extrasolares 2 - 1 a 7/7/2013

Três planetas na zona habitável de uma estrela próxima

Uma equipe de astrônomos combinou novas observações de Gliese 667C com dados obtidos anteriormente pelo instrumento HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros do ESO, no Chile, e revelou um sistema com pelo menos seis planetas. Três destes planetas são super-Terras orbitando em torno da estrela numa região onde a água pode existir sob forma líquida, o que torna estes planetas bons candidatos à presença de vida. Este é o primeiro sistema descoberto onde a zona habitável se encontra repleta de planetas.

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Gliese 667C é uma estrela muito estudada. Com cerca de um terço da massa do Sol, faz parte de um sistema estelar triplo conhecido como Gliese 667 (também referido como GJ 667), situado a 22 anos-luz de distância na constelação do Escorpião. Encontra-se muito próximo de nós - na vizinhança solar - muito mais próximo do que os sistemas estelares investigados com o auxílio de telescópios tais como o telescópio espacial caçador de planetas, o Kepler.

Estudos anteriores de Gliese 667C descobriram que a estrela acolhe três planetas (eso0939eso1214), situando-se um deles na zona habitável. Agora, uma equipe de astrônomos liderados por Guillem Anglada-Escudé da Universidade de Göttingen, Alemanha e Mikko Tuomi da Universidade de Hertfordshire, Reino Unido, voltaram a estudar o sistema, re-analisando os dados anteriores e acrescentando ao cénario já conhecido algumas observações novas do HARPS e dados de outros telescópios. Encontraram evidências da existência de até sete planetas em torno da estrela. Estes planetas orbitam a terceira estrela mais tênue do sistema estelar triplo. Os outros dois sóis seriam visíveis como um par de estrelas muito brilhantes durante o dia e durante a noite dariam tanta luz como a Lua Cheia. Os novos planetas descobertos preenchem por completo a zona habitável de Gliese 667C, uma vez que não existem mais órbitas estáveis onde um planeta poderia existir à distância certa.

Sabíamos, a partir de estudos anteriores, que esta estrela tinha três planetas e por isso queríamos descobrir se haveria mais algum”, diz Tuomi. “Ao juntar algumas observações novas e analisando outra vez dados já existentes, conseguimos confirmar a existência desses três e descobrir mais alguns. Encontrar três planetas de pequena massa na zona habitável de uma estrela é algo muito excitante!”.

Três destes planetas são super-Terras - planetas com mais massa do que a Terra mas com menos massa do que Urano ou Netuno - que se encontram na zona habitável da estrela, uma fina concha em torno da estrela onde a água líquida pode estar presente, se estiverem reunidas as condições certas. Esta é a primeira vez que três planetas deste tipo são descobertos nesta zona num mesmo sistema.

O número de planetas potencialmente habitáveis na nossa Galáxia é muito maior se esperarmos encontrar vários em torno de cada estrela de pequena massa - em vez de observarmos dez estrelas à procura de um único planeta potencialmente habitável, podemos agora olhar para uma só estrela e encontrar vários planetas”, acrescenta o co-autor Rory Barnes (Universidade de Washington, EUA).

Sistemas compactos em torno de estrelas do tipo do Sol são bastante abundantes na Via Láctea. Em torno dessas estrelas, os planetas que orbitam muito próximo da estrela hospedeira são muito quentes e dificilmente serão habitáveis. No entanto, isso já não se verifica para estrelas muito mais frias e tênues, tais como Gliese 667C. Neste caso, a zona habitável situa-se inteiramente dentro duma órbita do tamanho da de Mercúrio, ou seja muito mais próxima da estrela que no nosso Sistema Solar. O sistema Gliese 667C é o primeiro exemplo de um sistema onde uma estrela de baixa massa abriga vários planetas potencialmente rochosos na zona habitável.

O cientista do ESO responsável pelo HARPS, Gaspare Lo Curto, comenta: “Este interessante resultante foi possível graças ao poder do HARPS e do seu software associado e aponta também para o grande valor do arquivo do ESO. É muito bom ter vários grupos de investigação independentes a explorar este instrumento único, conseguindo atingir uma precisão tão extraordinária”.

Anglada-Escudé conclui: ”Estes novos resultados sublinham o quão valioso pode ser re-analisar dados e combinar resultados de equipes diferentes e de telescópios diferentes”.

Fonte: ESO

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ESA detecta variação de temperatura em nuvens de poeira de Andrômeda

Azul retrata temperaturas mais elevadas e vermelho as mais frias.
Imagem foi feita pelo Observatório Espacial Herschel.

Nuvens de poeira que preenchem a galáxia Andrômeda
(Foto: ESA/NASA/JPL-Caltech/NHSC)

O Observatório Espacial Herschel, da Agência Espacial Europeia (ESA), detectou a variação de temperatura entre os aneis de poeira espacial que preenchem a galáxia Andrômeda. A diferença foi captada por diferentes cores.

As nuvens mais frias são muito mais brilhantes e estão em comprimentos de onda maiores. Elas aparecem em vermelho na imagem, enquanto as mais quentes adquiriram uma cor azulada. De acordo com os astrônomos da Nasa, parceira da ESA na missão, o brilho visto na imagem retrata o comprimento de onda mais longo, que tem entre 250 a 500 micrometros – milionésimo do metro.


A capacidade de Herschel para detectar luz permite aos astrônomos enxergar nuvens de poeira a temperaturas de apenas algumas dezenas de graus acima do zero absoluto. Estas nuvens são escuras e opacas, com comprimentos de onda mais curtos. A imagem de Herschel também realçam raios de poeira entre os aneis.

De acordo com a agencia espacial, as cores foram melhoradas para tornar mais fácil a visualização, procedimento que não afetou a análise das informações e a variação das cores.

Os dados revelam que outras propriedades da poeira espacial, e não só a temperatura, também estão afetando a cor infravermelha da imagem. Segundo os astrônomos, a aglomeração de grãos de poeira ou crescimento de mantos de gelo sobre os grãos em direção à periferia da galáxia parecem contribuir para essas variações sutis de cores.

O comprimento de onda de 250 micrometros é processado como azul, o de 350 é verde, e o de 500 micrometros vermelho. A saturação de cor foi aprimorada para revelar as pequenas diferenças nestes comprimentos de onda.

Fonte: G1